Servir a Igreja
Mas não basta o desejo e os escritos. O seu amor à Igreja, o seu sentimento de ser Igreja é demonstrado com factos. Por estar baptizada na Igreja católica, sente-se obrigada a ser uma célula viva e dinâmica para o apostolado que lhe é possível realizar dentro de um convento de clausura. Como não pode de outra maneira, ela e as suas freiras, servirão a Igreja com os meios que a Igreja oficial permitia à mulher: a oração contemplativa nas clausuras. Ela teve a sorte de “servir a Igreja” de outra maneira muito mais efectiva. Quis “erguer a voz” para pregar a Cristo; a Igreja não a deixou por ser mulher, e porque São Paulo o tinha proibido. Anota numa das suas Contas de consciência que não estava de acordo com o uso indevido do texto paulino, como lhe disse Cristo numa das suas “locuções”: “Diz-lhes que não se guiem só por uma parte da Escritura, e se poderão, porventura, atar-me as mãos” (Conta de consciência 16. EDE, Julho 1571).
Santa Teresa fez dois grandes “serviços” à Igreja do seu tempo e de todos os tempos, porque o seu magistério permanece hoje com mais esplendor que nunca. O primeiro é o de ser “fundadora” de conventos reformados da Ordem do Carmo, com o novo título de Carmelitas Descalças/os. Às mulheres enclaustradas abriu-lhes o horizonte missionário, a salvação das almas, como projecto eclesial. À mulher, marginalizada no seu tempo pela Igreja, encarregou-lhe a tarefa de salvar o mundo com a oração, a contemplação e a vida evangélica. Enquanto outros combatiam os inimigos com as guerras de religião na Europa (ela estava contra as guerras de religião), e outros conquistavam impérios com a força das armas, ela e as suas freiras, em clausura, oravam e sacrificavam-se pelos que pelejavam com a força por uma vida melhor. E aos frades, fundados por ela, encomendou-lhes a missão de pregar o Evangelho em terras longínquas com o exemplo da vida e com os seus ensinamentos escritos.
Outra forma de “servir a Igreja” é mediante as suas obras escritas. Ainda antes de ser difundida pela imprensa, a sua Autobiografia corria manuscrita nas mãos dos professores da Universidade de Salamanca que a citavam nas suas aulas e alguns ouvintes fizeram-se carmelitas descalços. As edições das suas Obras completas, na sua língua original e em traduções nas línguas de todos os continentes, continuam a aparecer nos nossos dias. O mesmo se diga de cada uma das suas obras. Os estudos sobre ela multiplicaram-se de tal maneira que são inumeráveis, quase incontáveis. A celebração do V Centenário do seu nascimento (1515-2015) está a pôr em evidência a perene actualidade de Santa Teresa.
Temos que acrescentar outro “serviço” mais secreto e misterioso à Igreja universal: o exemplo da sua vida santa, atraente e, ainda, a simpatia que suscitam as suas virtudes “humanas”. Santa Teresa é hoje um dos modelos de perfeição cristã que mais seduz os leitores das suas obras e ouvintes da sua doutrina. Vivendo em Ávila, damo-nos conta da atracção que a sua figura continua a exercer entre os católicos e não católicos, crentes e ateus. Os turistas e peregrinos que se aproximam para visitá-la na sua “casa natal” continuam a aumentar, e aumentarão com as celebrações centenárias no ano 2014 (beatificação) e 2015 (nascimento
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